sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Encerramento das atividades

Infelizmente as alegrias do verão de 2008 acabaram no término do verão de 2012. Foram quatro anos maravilhosos que nunca vou esquecer. Sempre surgirá um sorriso quando eu lembrar de todos meus sonhos nessa época. Aprendi o que é o amor e do que ele é capaz.

Não vou apagar meu passado e nem esse blog. Ele estará aqui, espero que para sempre. Faz parte do patrimônio do meu coração.

E como a vida não pára, redicionarei minhas loucuras para o Bola 14:




Obrigado!
Roberto Casimiro
14/12/12

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Hare Baba!




Estou a algumas horas pensando em arrumar um tempo para escrever sobre a Igreja Universal. Finalmente encontrei esses preciosos minutos (ou horas, pois não sei quanto vai durar isso) e quando abri o Word, coloquei uma música e acendi um cigarro me senti novamente (pois já citei esse sentimento outro dia) um clichê ambulante. Esse assunto esses dias tem sido pauta em infinitos blogs, TV, rádio, jornal... Então, do que falar? Amor? Puts, mais clichê ainda. Como não tenho nada para falar, vou falar sobre... o “nada”! Me senti repugnante de novo. Falar sobre o nada é o maior dos clichês. E ainda daria a impressão que eu puxei sardinha no começo do texto pra falar sobre o nada. Então falarei sobre clichês. Mas também é clichê falar sobre clichês. Hoje em dia é tão difícil você se expressar sem parecer um robô como todas as outras pessoas. Hoje tudo é pauta, tudo é falado, tudo é clichê então? Não! Apesar de todos poderem se expressar (e muitos fazerem isso), através de inúmeros meios, a criatividade, a originalidade, a sinceridade e a “cara-de-pau” está em extinção. Poucos falam o que querem. Por quê? Medo? Vergonha? Eu acho que a sociedade se nivelou a um nível de alienação nunca antes atingido e, sendo assim, não emitem opinião própria, mas sim o que é conveniente (para si e para os outros). Apesar de contarmos com infinitos jornalistas, escritores, artistas e criadores em geral, poucos fazem a diferença, poucos pensam. E os que pensam não se destacam, aliás, se destacam entre os pensadores, apenas.

Se você pegar um ônibus, com certeza esbarrará com uma dona de casa dizendo “Hare Baba” (já aconteceu duas vezes comigo), sem ao menos saber o que significa essa indagação da novela das oito. Um dos mais poderosos meios de comunicação, a TV, passa na maioria de sua programação programas enaltecendo os ditos famosos (atores, bonitões e bonitonas e personalidades sem conteúdo), dizendo o que fulano comeu no almoço, o que ciclana foi fazer na praia e quem beijou quem. E as pessoas adoram isso! A dona de casa dá mais atenção ao dia-a-dia de um desconhecido que não acrescenta nada em sua vida, do que ao filho que precisa de ajuda na escola. A história da novela é mais importante do que a vida real. E depois de um ano ninguém mais nem lembra mais da história. Mas, enquanto dura, vivem disso, cantando músicas indianas que nunca lhe fizeram o gosto, mas está na moda.

O ser humano perdeu a identidade. Chegamos a um ponto em que não há solução para o desperdício de neurônios da sociedade. Um exemplo de como é impossível mudar o atual quadro: creio que todos que estão lendo convivem com pessoas no perfil da sociedade. Vocês conseguem mudá-las? Não adianta forçar uma pessoa a assistir Discovery Channel. A cabeça já está formada. Conheço pessoas que ficam vidradas nos absurdos telejornais sensacionalistas a La José Luiz Datena, ficando chocadas com as notícias de assassinatos, estupros e violências em geral. A Isabela Red Bull causou comoção nacional, mas quantos casos semelhantes e piores acontecem e ninguém nem noticia? As pessoas ficaram cépticas com muitas coisas preocupantes. Se houvesse uma Isabela jogada da janela por dia na TV, ninguém mais se chocaria. E a Gripe Suína? Ah! Vou reservar o próximo parágrafo para esse assunto irritante.

Alguém se lembra do avião que caiu no oceano? Era pauta constante em tudo, mas a gripe suína tomou o lugar e nunca mais ouvi em lugar nenhum nada sobre o vôo da Air France. Vejo pessoas nas ruas de máscara! Isso é um absurdo. As vendas de álcool em gel e das tais máscaras explodiram! A prevenção é ótima e é muito bom as pessoas se cuidarem, mas o que me incomoda é saber que quando não for mais notícia, as pessoas esquecerão da tal gripe. Vejam só: são cerca de 3 mil pessoas com a gripe no Brasil e toda a população está assustada, preocupada com máscaras, enquanto, no Brasil temos cerca de 3 milhões de homens e mulheres infectados pelo vírus da Aids e ninguém se preocupa em usar camisinha! E a tuberculose? Aqui há mais de 80 mil pessoas com a doença, ela é muito mais perigosa que a gripe e... Ninguém se preocupa.

Como, de acordo com minhas teorias, não há solução para a alienação e ignorância de nossa população terráquea, resta-me torcer para que um surto de gripe ocorra em um culto na Igreja Universal, repleto de fanáticos, contaminando todos e mandando-os para o raio que o parta, com a única condição de algum deles voltar para dizer que foram todos realmente para o inferno.

Não escrevi um texto falando da Universal, mas um parágrafo já me deixou satisfeito.

E por favor, moralistas, fora daqui! Não os suporto!

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Lançamento: O Ventre de Oxum
















Vou fugir um pouco do perfil desse blog para falar sobre o livro “O Ventre de Oxum”, o primeiro romance do meu amigo, o escritor e jornalista Wagner Ribeiro.

A narrativa da história é feita utilizando o passado e presente e é construída com base em obras de autores como João Silvério Trevisan e Carlos Heitor Cony, além de entrevistas e pesquisas em jornais.

A história se passa em cidades como Salvador e São Paulo, tendo como personagem principal Julio Ferraz, que enfrenta as mudanças da sociedade contemporânea, a qual transita entre as diferenças dos tempos modernos e o legado do passado.

O livro apresenta um tema pouco utilizado na literatura atual, a homossexualidade, mostrando questões vividas no dia-a-dia pela sociedade e aborda a superficialidade do ser humano moderno, que tem sua vida regida pelo capitalismo, perdendo valores e sentimentos como a religião e o amor.

Ainda não tive a oportunidade de ler o romance, mas conhecendo o autor, eu recomendo de olhos fechados.

O lançamento será no dia 03 de agosto (segunda-feira), na Livraria Cultura do Conjunto Nacional (Avenida Paulista, 2073), das 18h30 às 21h30. Não deixem de ir, pois terão a oportunidade de garantir o autógrafo do autor, tirar fotos com ele e depois tomar uma gelada em algum botequim das intermediações.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Livre Arbítrio



Com uma vida repleta de sucessos e fracassos, Antônio Carlos Jordão, chamado de Toninho pelos amigos, vivia sua medíocre vida manipulando tudo e todos. Chegou, enfim, aos 40 anos, idade que, segundo ele, era o começo do final da trajetória de cada ser humano habitante do planeta Terra. Era casado há 18 anos com Cecília Ramos Jordão, mulher formosa quando jovem, porém, depressiva aos 43 anos. O casal nunca teve filhos, por um raro problema de infertilidade da esposa, talvez um dos motivos que a levou a tornar-se uma mulher amarga. Toninho, dono de uma pequena empresa no ramo de importação e exportação, tratava as pessoas ao seu redor, inclusive sua mulher, com ar de superioridade, mostrando todo seu egocentrismo. Seus subordinados o respeitavam em sua presença e o debochavam quando não estava por perto. Antônio Carlos nunca teve pudores ao aplicar golpes em clientes e rivais, e nem mesmo em sonegar por anos o imposto de renda. Sentia-se um titereiro manuseando todos em sua volta, fazendo com que seus próximos não passassem de marionetes.

Em uma rotineira viagem de negócios à Angola, país no qual mantinha alguns clientes, Toninho dirigia-se ao hotel após almoçar em um restaurante e, passando por uma viela, um homem interrompeu suas passadas com um grito.
- Biriba!
Antônio Carlos parou por dois segundos, virou-se, assustado, pois esse era seu apelido de infância.
- Venha cá. – Disse o homem, com um tom de voz mais baixo.
Aproximou-se do desconhecido, que estava encostado em um muro, com a cabeça baixa e um chapéu que escondia sua face.
- Quem é você? – Indagou Toninho.
O homem ergueu a cabeça, revelando-se um senhor negro, por volta dos 70 anos. Aparentava ser um mendigo.
- Não faças perguntas, tolo. Tu não estás em situação de me falar nada. Apenas me escute.
Com um ar de desconfiança, porém curioso, Antônio Carlos ameaçou retrucar, mas o ancião não permitiu, interrompendo sua fala.
- Estás a pensar que sou um doido, mas não sou. Ouça bem: Quando voltares ao Brasil, verás uma harmonia diferente. Tudo parecerás normal, do jeito que sempre foi. Todos continuarão sendo teus escravos, fazendo tuas vontades. Teu ciclo chegastes ao fim, Biriba, tu verás como o mundo girando ao teu redor, mas tua consciência não aguentarás e tu não passarás de um escravo de ti mesmo.
- Quem é você? Como sabe que me chamavam de Biriba? – Disse Toninho em tom agressivo.
- Cala-te e siga teu caminho. – Murmurou o velho e pôs-se a andar na direção contrária ao destino de Antônio Carlos que, ficou parado por alguns minutos, observando o homem até perdê-lo de vista.

Alguns dias bastaram para Toninho esquecer o fato e continuar seus negócios, voltando para o Brasil em seguida. Sua personalidade não deixara que aquilo mexesse com ele. Chegou em casa e não notou nenhuma diferença. O mesmo acontecera no trabalho.

Meses após sua visita à Angola, em um domingo a noite, depois de umas taças de vinho, vivia um raro momento de intimidade com sua esposa, como há anos não acontecia. Beijos e insinuações, misturados ao teor alcoólico do vinho, levaram-os a cama. Já despidos e entrelaçados, Antônio Carlos pensou em pedir para sua esposa fazer-lhe sexo oral, como não acontecia há muito tempo. Antes dele falar, Cecília desceu pelo seu corpo e realizou seu desejo. Essa foi a melhor transa que tiveram em quase 19 anos de casados. Após a relação, dormiram nus e abraçados.

No dia seguinte, Toninho acordou e retomou sua rotina. Tomou banho, café da manhã e foi para o escritório. Chegando na empresa, notou uma pilha de relatórios que pedira na sexta-feira ao seu assistente para fazer. Ficou impressionado, pois sempre demoravam dias para ficarem prontos. Meia-hora mais tarde, sua secretária chegou, com um decote insinuante e uma mini saia que mal cobria suas coxas. Era evangélica e geralmente usava roupas comportadas, sem decotes e saias que cobriam seus joelhos. Antônio Carlos sempre fantasiou sua secretária assim. Achou estranho, mas não comentou.

Ao longo do dia, ele reparou com situações tão estranhas como as que aconteceram. Seus empregados estavam trabalhando como nunca, cumprindo os horários e metas, rindo de suas piadas. Normalmente as coisas eram assim, mas estava exageradamente perfeito para ele. Passou pela sua cabeça que poderia ser um complô, mas logo esqueceu essa idéia. No término do expediente, arrumou suas coisas para ir embora e percebeu que todos funcionários ainda trabalhavam, ninguém havia saído sem antes terminar todo o serviço. Normalmente ficavam pendências para o dia seguinte.

Dirigindo, no caminho de casa, Toninho não foi fechado e muito menos reprimido por suas indisciplinas ao volante. Mesmo sendo um dia atípico, ele não pensou muito nisso, até que quando entrara em uma avenida tomada pelo congestionamento, a faixa que encontrava começou a esvaziar, com os carros abrindo passagem. Pensou até que houvesse uma ambulância ou viatura de polícia, mas não ouvira sirenes nem avistara nada parecido. Já com medo, dirigiu agoniado até sua casa. Adentrou na garagem e após o portão automático fechar, ficou dentro do carro cerca de 20 minutos, pensando. Sem encontrar explicações lógicas para tudo que ocorrera, decidiu sair do carro e entrar em casa.

- Amor! – Gritou, enquanto trancava a porta.
- Aqui na cozinha, Bem.
Quando ele chegou na cozinha, um banquete o esperava, com tudo que ele mais gostava. Strogonoff de camarão, arroz à grega e um vinho do Porto dentro de um balde cheio de gelo. Sua mulher, de hobby, estava deslumbrante. Havia pintado os cabelos, feito as unhas, depilado as pernas e se maquiado. Parecia outra pessoa. Quando viu seu marido, Cecília deu um beijo molhado em seu rosto e se abaixou, abrindo o cinto de Antônio Carlos. Sua reação foi agressiva. Deu um passo para trás, empurrando a mulher.
- O quê ta acontecendo aqui? – Gritou Toninho
- Nada, querido. Só quero te agradar, amor.
Antônio Carlos saiu correndo e trancou-se no quarto. Na verdade aquilo era tudo que sempre sonhara. Sua esposa tornou-se a mulher que ele quis a vida inteira, porém, todos os acontecimentos recentes o assustaram e sentiu que nada que acontecera era normal. Ficara dois dias e duas noites trancado no quarto, lembrando do velho angolano e tentando entender a situação. Estranhou também que Cecília nem batera na porta para perguntar o que ocorreu com ele. Em um milésimo de segundo, seus pensamentos clarearam e, mesmo sabendo que não havia lógica alguma, descobriu que tudo que ele pensara e queria, virava realidade. Para confirmar sua teoria, precisava apenas confirmar isso.

Toninho saiu do quarto, desceu as escadas e encontrou sua mulher na sala. Pensou nela se despindo e, sem ele abrir a boca, ela se despiu. Como que se tivesse ganho na loteria, deu um grito de felicidade, juntamente com um pulo, beijou sua mulher e saiu correndo. Pegou seu carro e foi usar seu fazer mais testes na rua.

Com o tempo, ele aprendeu a dominar seu poder e conseguiu tudo que sempre sonhara, com extravagâncias e exageros. O mundo era de Toninho. Todos eram de Toninho. Tudo era de Toninho. Ele conquistou quantias infinitas de dinheiro, viajou por todo o planeta, saiu com as mais belas mulheres, dirigiu os mais potentes e sonhados carros, participou de filmes, destruiu todos e tudo que não gostava, comeu os mais exóticos pratos, teve todos aos seus pés. Antônio Carlos dominou o mundo por 20 anos, mas, tendo tudo que queria, sua vida foi amargurando, perdendo o sentido.

Pensou em tudo que vivera. Já estava beirando os 61 anos e não havia conquistado nada. Tudo foi ganho de mãos beijadas, pois bastava ele querer que tinha. Não era diferente do Toninho aos 40 anos, mas era muito mais fácil. As pessoas com que ele conversava, falava o que ele queria ouvir, faziam o que ele queria que fizesse. Sentiu que era o único ser humano na Terra e que todos eram robôs, escravizados para ele. Tentou por muitos meses achar uma solução para a situação, porque o sonho virara pesadelo.

Três dias acordado, pensando, sem comer, só bebendo vodka. Mais uma vez, em um milésimo de segundo, seus pensamentos clarearam e Antônio Carlos encontrou uma solução. Faria o mundo do jeito que era antes. Com as pessoas fazendo as coisas para elas mesmas. Fez com que os outros o contrariassem também, e assim voltou a ter uma vida normal e retomou sua empresa e voltou para sua mulher. Seus empregados voltaram a faltar-lhe com o respeito em sua ausência, sua mulher não era a esposa perfeita, mas era a de antigamente, as pessoas xingavam Toninho no trânsito e nada mais era em prol dele.

Cinco anos se passaram. Sua vida estava normal novamente, mas um pensamento veio à tona. Ele descobriu que mesmo dando o livre arbítrio às pessoas, elas continuavam agindo conforme ele queria. Elas sendo normais, contrariando Toninho, era por escolha dele. E ele não queria mais isso, queria não ter que escolher mais nada, queria que o rumo das coisas fosse dado pelo destino, e não por ele. Entendeu então que era o único ser no mundo consciente. Perdeu o amor pela vida, queria morrer.

Foi até a sacada de um prédio para se atirar, mas não teve coragem. Como Toninho tinha o poder de controlar o rumo de todos, mas não de controlar seu próprio corpo? Não conseguira nem se matar. Desceu do prédio e caminhou pelas ruas.

Na primeira quadra que andou, um homem veio correndo em sua direção e o derrubou. O homem o agrediu, até Toninho conseguir correr e se esconder em um beco.
- Se eu tenho o poder sobre todos, por que aquele louco quis me bater? – falou para si.
Descobriu então que, apesar de não conseguir morrer, seu desejo perpetuava e seus robôs realizariam isso. Tentou tirar isso de seus pensamentos, mas todos o perseguiam. Pessoas atirando, carros desgovernados, tudo contra Toninho, que entrou em um automóvel e acelerou pelas vias da cidade. Por sorte, estava perto de casa. Desviou de todos os obstáculos, como um herói, até chegar em sua casa. Arrebentou o portão da garagem com o carro, entrou, trancou a porta e colocou todos os móveis possíveis na entrada, bloqueando o acesso. Uma multidão enlouquecida tentava adentrar em sua residência.

No centro da sala, abaixou-se e chorou como uma criança, com a mão encobrindo a cara, com vergonha de si. Sentiu um golpe nas costas. Olhou para trás e viu Cecília com uma faca ensanguentada na mão.
- Você, Cecília, você? Por que fez isso comigo? – murmurou, chorando e soluçando.
- Só quero te agradar, amor – disse Cecília, com os olhos vermelhos e cheios de lágrimas.

Antônio Carlos Jordão morreu. Teve o livre arbítrio de fazer essa escolha. Sabia que poderia mudar seu trágico destino, mas no fundo, era o que queria.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Sem Pé nem Cabeça



Serei breve, pois só tenho três cigarros.


Som na caixa, playlist selecionada. Todas as 968 músicas para tocar em ordem aleatória.


“Where, There and Everywhere”, dos Beatles. Pra começar ta bom. Mas que merda! O Word não pára de me corrigir e eu não consigo criar. Menos de quatro linhas e já acabou a canção.


“Mariana foi pro Mar”, do Ira!. Música tosca do último álbum, fracassado, da banda. Mas o ritmo é bom. Sinto que saio do meu estilo fazendo isso. Não consigo desenvolver meu pensamento ouvindo músicas em português. Vou acender o primeiro Marlboro até a música terminar. Mal acendi e acabou.


“Brothers in Arms”, Dire Straits. Fiquei horas no ônibus, bêbado, pensando no que escreveria. Na verdade foram minutos, cerca de 30, 40. Fujo dos clichês, mas minha vida mais parece um clichê ambulante. Penso muito antes de fazer algo. Penso muito antes de não fazer algo. Mais um trago. E lá vem o soluço. Seguro o ar pra ver se passa. Parece que passará. Passou. Mais um trago. Voltou. Foda-se! O Word continua me corrigindo. Não quero! E se eu quiser escrever errado? Qual o problema? e se eu quiser deixar a primeira letra minúscula? E se eu, quiser colocar as vírgulas erradas?


“If I Need Someone”, mais uma dos Beatles. O cigarro ta queimando sozinho. Tenho vontade de mijar, mas dá pra segurar. Ia colocar “agüentar”, mas troquei por “segurar”. To me sentindo louco hoje. Me sinto como se estivesse escrevendo num diário. Mas que porra é essa? Diário de cu é rola.


“Ready Teddy”, de Tony Sheridan. Preciso decidir o que vou fazer da minha vida. Preciso ganhar dinheiro. Preciso fazer mais e pensar menos. Preciso ir ao banheiro.


“Twist and Shoudt”, Beatles. Música pela metade. Cigarro apagado. Bexiga vazia. Mãos não lavadas. Penso como seria se tivesse vivido na década de 1960. Estaria com uns 50 e poucos anos, contando pros jovens o que vivi. Talvez seria como todos, seria normal. Não quero ser normal. Teria sido legal. Batuques acompanhando o clássico.


“Let me Go”, Three Doors Down. Que porra de música é essa que ta no meu PC? Não me traz inspiração alguma. Notei que escrevi muitos “preciso” e “tenho” aqui. Na verdade não preciso de nada. Quero só viver e ter algo pra contar pra alguém amanhã. Talvez algum fato, algum acontecimento. A TV está ligada. Tenho a impressão que ninguém vai ler até essa parte. O telefone tocou. 2h49 da manhã. É a patroa. Pausa para tudo.


“People are Strange”, The Doors. Três horas de conversa ao telefone. Fumei os dois cigarros restantes. A inspiração já está dormindo. E fim de papo!

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

João e o Pé de Maconha



João era uma criança perdida no mundo. Seu pai morrera na prisão, onde passou seus últimos anos condenado por latrocínio e sua mãe, uma mera diarista, batalhava para pagar as contas e pôr comida na mesa. Moravam em uma comunidade afastada, no interior do Rio de Janeiro, onde João, sem dinheiro para realizar suas vontades de adolescente, praticava alguns delitos, como furtos e pequenos golpes. Logo passara a ser um dos novos avioezinhos da boca de fumo da região, e então, nada mais faltara em sua casa. Sua mãe, preocupada com o filho, que seguira os passos do pai, procurava sempre dar-lhe sermões e não aceitava a vida que levara, mas de nada adiantava, pois a “vida fácil” fazia com que o garoto ficasse cada vez mais iludido com o dinheiro que entrava rapidamente com seu novo trabalho.

Dois anos se passaram e após ser detido pela polícia local, João foi brutalmente torturado pelos policiais, que exigiam informações sobre o tráfico de drogas da região. O garoto, temendo sua vida, não abriu a boca, foi libertado e decidiu sair da criminalidade e ganhar seu dinheiro honestamente. Voltando então à pobreza, João conseguiu um estágio no programa “Jovem Cidadão”, mas não ganhava o suficiente para sustentar a casa, pois sua mãe sofria de tuberculose e não podia mais trabalhar. Vivendo na miséria, ele e sua progenitora passaram momentos de desespero, sem ter o que comer, quando João decidiu vender uma vaca que havia comprado na época que trabalhava de aviaozinho. Na ocasião, ele pretendia fazer um grande churrasco, mas o fato ocorreu paralelamente à sua detenção e a vaca já estava à beira da morte, de tão magra.

João foi ao açougue do Tião para vender Mimosa e no caminho encontrou um mendigo desdentado que, de tão bom de lábia que era, conseguiu convencer o garoto a trocar sua vaca por três sementes mágicas. Quando chegou em casa, João contou à sua mãe sobre seu negócio e ela, mesmo doente, deu-lhe um tabefe na cara, e após ofendê-lo, mandando enfiar as sementes em suas entranhas, tomou-as de suas mãos e arremessou-as pela janela. João, muito triste com o ocorrido, passou a noite embebedando-se com uma cachaça até dormir. De manhã, acordou para beber água, devido sua ressaca e quando passara pela janela, deparou-se com um fato inimaginável: onde sua mãe jogara as sementes, nascera um gigante pé de maconha. Ele foi até o quintal ver de perto aquela gigante árvore, que desaparecia por entre as nuvens. Pensou em subir para ver até onde chegava, mas antes colheu algumas folhas para fumar um baseado. Após um tapinha, trepou naquele imenso pé de cannabis, onde parecia que não tinha fim e algumas horas depois, conseguiu chegar ao topo.

Acima das nuvens, havia um imenso castelo e João não pensou duas vezes em entrar para ver o que tinha dentro. Tudo era grande por dentro também e enquanto vasculhava o local, ouviu passos e tratou de esconder-se em um canto. Eis que aparece o Gigante do Olho Vermelho, com dreads no cabelo e uma camiseta do Bob Marley. O gigante sentou-se no sofá e ordenou que sua galinha colocasse ovos e sua guitarra mágica tocasse. Logo a galinha começou a botar ovos de ouro e a guitarra a tocar reggae. João ficou estupefato com aquilo e, sem poder sair do seu esconderijo, decidiu acender um beck para passar o tempo. O gigante sentiu o cheiro sentiu que havia alguém por perto. O garoto, assustado com a hipótese de ser encontrado, esperou que o gigante distrair-se para fugir. Pegou a galinha e a guitarra mágica e correu para fora do castelo. O gigante viu João e quando correu atrás, caiu, de tão drogado que estava.

João conseguiu voltar ao pé de maconha, desceu rapidamente e com um machado, derrubou a árvore, para que o gigante não pudesse vir ao seu encontro. Sua mãe ficou muito feliz depois que ouviu a história do filho e, com alguns ovos de ouro saiu para pagar o aluguel, cartão de crédito, os carnês das Casas Bahia e C&A e comprar comida.

Parecia que todos os problemas estavam resolvidos, porém, quando a mãe de João voltou, deparou-se com uma cena deplorável: o garoto, depois de fumar tanta erva, fez uma canja com a galinha, pois estava em uma imensa larica. Com raiva de João, ela espancou-lhe até cansar, batendo nele com tudo que encontrara, inclusive com a guitarra mágica, que quebrou e após isso não tocou nem sequer um acorde.

Estava tudo acabado novamente para a pequena família. Não havia mais ovos de ouro, já que a galinha fora comida por João e nem a guitarra, que quebrara no espancamento do menino. A vida miserável estava novamente escrita para o futuro de João e sua mãe, mas como o garoto era muito esperto, conseguiu ter uma grande idéia para inverter a situação. Com toda a maconha da gigante árvore que derrubara, João começou seu novo negócio: abriu sua própria boca de fumo e conforme ganhava dinheiro, entrou em novos negócios, como a cocaína e o crack. Comprou armas, recrutou muitas pessoas para trabalhar em seu negócio, nomeou o mendigo que deu-lhe as sementes a chefe de sua quadrilha e acabou com toda a concorrência da região.

João conseguiu sair da pobreza e hoje é um respeitado traficante de drogas, um dos mais renomeados do Rio de Janeiro. Uma pessoa que lutou muito para conseguir ganhar seu dinheiro honestamente. Tudo isso graças ao seu pé de maconha.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Ciclo vicioso



Fernando, Renato e André conheceram-se no ginásio. Cresceram juntos e a amizade continuou após a escola. Após formarem suas vidas, criaram uma espécie de clube, onde reuniam-se todo primeiro sábado de cada mês, no apartamento de Renato, para beber e jogar conversa fora.

Passam-se os anos e a rotina continuara a mesma, com muita bebedeira e risadas em seus encontros mensais, porém, em uma noite que previa-se ser como as anteriores, um acontecimento imprevisível mudou a vida dos três amigos.

Após várias doses de vodka e alguns baseados, André e Renato decidem ir ao bar comprar cigarros. Fernando mal conseguia levantar-se de sua poltrona, devido a bebida e a maconha, então não pôde acompanhar seus amigos.

Cerca de vinte minutos depois, André e Renato, bêbados, sobem as escadas do prédio, abastecidos de cerveja e fumo. Renato, com muita dificuldade consegue encaixar a chave na fechadura da porta. Lentamente dá duas voltas à esquerda, para na sequência girar a maçaneta. O silêncio é interrompido pelo rangido da porta sendo aberta. Novamente o silêncio toma conta do ambiente, com os dois amigos estagnados na entrada do apartamento, deparando-se com a chocante cena que encontraram: Fernando, estirado na poltrona, na mesma posição que encontrava-se quando saíram, mas, incompreensivelmente, estava velho, com cerca de cinquenta anos a mais. Antes de André e Renato tomarem uma atitude, o silêncio novamente fora interrompido, mas agora pelas palavras de Fernando: "Não se assustem". Os dois aproximaram-se cautelosamente do velho e viram sua mão trêmula relaxar e então seu amigo caiu no sono eterno, sem poder dar nenhuma explicação sobre o ocorrido.

Alguns anos e muitas sessões de psicanálise não fizeram André e Renato esquecer do acontecimento com seu amigo, mas ajudaram a pelo menos conviver com isso. Depois de um certo tempo, resolveram retornar com suas reuniões mensais e, sem nada combinarem, não tocaram no assunto por cinquenta anos, quando, na mesma sala em que tudo ocorrera, decidem retomar o fato e reviver cada instante do que viram a meia década atrás. Fizeram uma reconstituição daquele dia e desceram por exatos vinte minutos. Não foram ao bar, pois o mesmo não existia a quinze anos, mas deram algumas voltas pelo bairro. Subiram as escadas lentamente e Renato, trêmulo, abriu a porta. A visão que tiveram era tão chocante quanto a do passado, porém, parecia que já esperavam por isso: Fernando, estirado na velha poltrona, bêbado como a cinquenta anos, porém, jovem. Quando ele viu os dois velhos, instantaneamente ficou são e levantou-se assustado. Antes dele falar algo, André repetiu as palavras do amigo: "Não se assuste" e sentou-se ao sofá. Renato repetiu o movimento do amigo e, após acomodar-se, falou: "Um dia você entenderá". Foram as últimas palavras deles, que morreram simultaneamente, sem esboçar dor ou sofrimento.

Fernando reviu os amigos. Cinquenta anos depois.

sábado, 21 de junho de 2008

O Andarilho


Malas prontas para a grande viagem. Caminharei pela estrada procurando a Felicidade. Prometo parar quando encontrá-la e alojarei-me eternamente no local onde ela estiver.

É dia ainda. O Sol atinge minha cabeça, fritando meus pensamentos ainda lúcidos, esquentando ainda mais minha angústia em encontrar meu objetivo. Um cantil de paciência ajuda a minimizar a quentura da árdua jornada que terei pela frente.

Passam-se alguns dias e sem parar por instante algum, a visão trêmula do horizonte continua a palpitar perante meu globo ocular. É a visão do desconhecido, do nada, do suspense, da ausência. Diante da contínua cena, os olhos pedem trégua e faço a primeira parada. Não deveria, pois nunca pode-se perder tempo quando pretende-se ir de encontro com a Felicidade.

Após o descanso, sigo adiante. As visões mudam, porque acostumei com o cenário. O desconhecido tornou-se conhecido, o nada transformou-se em tudo, o suspense virou rotina e a ausência alterou-se para comparência e agora caminhara ao meu lado. Essas mudanças são pistas sobre o paradeiro da Felicidade, que não deve situar-se muito longe dali.

Ao longo da estrada, vejo algo distante. Aproximo-me rapidamente e encontro uma bifurcação. O sentimento de dúvida pairou no ar. Para onde seguir? À esquerda, uma trilha com flores e pássaros por todos os lados. À direita, uma estrada de terra, onde via-se o pôr do Sol ao fundo. Com muitas dúvidas, resolvi seguir o Sol.

O cansaço voltara, mas decidi não parar mais até encontrar a Felicidade. Caminhei por diversos dias e veio o fatídico acontecimento: O final da estrada que escolhera, era meu ponto de partida. Exatamente de onde comecei a andar em busca da Felicidade, cheguei. Viajei por diversos dias e noites, em vão. Prontamente, ergui a cabeça e voltei pela estrada até chegar novamente à bifurcação.

Já sabia que o caminho do Sol não era o da Felicidade. Só restara a trilha das flores e pássaros. Passei novamente dias e noites andando. Esse caminho parecia ser infinito, mas não desanimei, pois sabia que no final viria a recompensa.

Ao fim da viagem, novamente a decepção: o fim da trilha também era exatamente o lugar de onde eu partira. Como pode os dois caminhos resultarem em um único local, sendo ele o mesmo de onde eu saí?

Cabisbaixo, resolvi desistir de meu objetivo, mas quando levantei a cabeça, tive a surpresa mais inimaginável de minha vida. Vi a Felicidade, justamente onde comecei minha jornada. Perguntei à ela o que fazia naquele lugar, onde passei todos meus momentos sem sua companhia, e por que quando fui ao seu encontro, ela decidiu acomodar-se lá. A Felicidade foi simples em sua resposta. Me disse que sempre esteve e nunca saíra daquele local, e eu nunca dei-me a chance de enxergá-la anteriormente.

Entrei em minha casa contente, pois tinha achado o que queria, porém, estava pensativo e não decifrara o que acabara de acontecer. A resposta para tudo surgiu rápido. Quando olhei no espelho, não me vi. O que refletia era a Felicidade. Entendi que ela não estava apenas ao meu lado, ela estava dentro de mim. Estando dentro de mim, poderia transformar qualquer lugar, qualquer objeto, qualquer sentimento, qualquer pessoa, na Felicidade, e foi isso que eu fiz.

Com minha longa viagem, aprendi que não acha-se o que não existe, mesmo procurando pela vida toda, em todos os lugares. Para encontrar, basta ver o que deseja, dessa forma, o desejo passa a existir.

domingo, 15 de junho de 2008

Embriaguez de sono


Duas horas da manhã. Completam-se cerca de quarenta e uma horas acordado. Olhos vermelhos e estagnados. O corpo não acompanha mais a agilidade contínua do cérebro. O despertador, oriundo de um camelô, ordena que a cada "tic", além de decretar um segundo passado, também diminua a ligeireza dos reflexos. Dois dias seguidos trabalhando, estudando, namorando, falando, escutando, pensando. O inconsciente pede desesperadamente a cama quente e o consciente quer mais alguns momentos de lucidez para transformar em palavras as idéias que persistem na mente.

A visão, em câmera lenta, parece que não acompanhará o raciocínio, porém os dedos digitam tão rapidamente as mensagens enviadas pelo cérebro, que multiplica constantemente as informações mandadas para o computador. Enquanto a transcrição é feita, pensamentos diversos ocorrem, fugindo totalmente da idéia do texto, mas os dedos continuam a digitar coerentemente o que foi-lhe pedido anteriormente, como se fosse um subordinado fazendo o que o patrão manda-lhe.

A cada piscar d’olhos, a cada bocejo, milhares de viagens são feitas paralelamente e começa a fluir o intelecto, trazendo a cada letra uma tensão sobre o resultado final. O sono faz com que a reflexão seja diferente, como se estivesse hipnotizado ou dopado e diferentemente de uma situação normal, tudo tem um sentido dissemelhante.

Nos momentos finais, surge uma sensação vaga, como se não quisesse sair daquela transe e se o corpo permitisse, não pararia mais de transladar a criatividade que fora dada naquele momento de embriaguez de sono. Mas como tudo possui um fim, chegara o momento de botar um ponto final e apenas apreciar posteriormente os relatos que foram criados.

Três horas da manhã. Completam-se cerca de quarenta e duas horas acordado. A petição de rendimento que o corpo pedira, será atendida pela mente. Com o sentimento de dever cumprido, o consciente ordena o tão aguardado repouso.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Verão de 2008



Foi no verão de 2008 que vi as flores desabrocharem como na primavera, senti a brisa seca do outono, procurei me esquentar como no inverno e me refresquei de todas as maneiras possíveis e impossíveis, pois era verão.

Foi no verão de 2008 que descobri que a complexidade da vida não é nada complexa, porque é necessário somente amar para viver. Quando tentei apreciar outros sentimentos e experiências antes do amor, não tive sucesso, pois pensava que para conseguir qualquer coisa bastava existir, mas o que não havia compreendido era que para existir, é necessário amar.

Foi no verão de 2008 que todos os sinos badalaram em minha humilde mente e simultaneamente meus 5 sentidos se aguçaram e comecei a ver as pessoas e o mundo de uma forma diferente, de uma maneira em que as cores se afloraram, objetos inanimados ganharam vida e eu passei a perceber com mais frequência o sorriso dos outros.

Foi no verão de 2008 que aprendi a lidar com os erros, simplesmente errando e transformando isso em lição para o dia de amanhã. Comecei a planejar não só para um futuro recente, mas para todo o restante da vida, eliminando as desagradáveis surpresas que viriam em consequência de falhas.

Foi no verão de 2008 que conheci uma mulher que me deixou maravilhado, admirado, estupefato. Ela me fez um grande favor: me mostrou a beleza da vida e me obrigou a lutar por meus ideais, minhas promessas, meus objetivos. Ela me causou um grande furor, trazendo à mim uma antiga incógnita: a felicidade verdadeira.

Foi no verão de 2008 que tudo começou a fazer sentido, minha mente se abriu de uma forma inesperada, percebi que o sucesso viria naturalmente, que todos que me querem bem mereciam uma atenção especial e percebi também que eu não poderia ter vivido isso antes, porque tudo só aconteceu pela influência do destino, que me fez passar por diversas provas antes dessa percepção.

Foi no verão de 2008 que o verão chegou ao fim. Terminou fisicamente, pois eternamente vou viver nessa época, onde encontrei a pessoa que me abriu os olhos para o amor, cuidou de mim, me fez sorrir. Essa fase da minha vida só foi tão significante por causa desse detalhe, desse amor que apareceu e não saiu mais.

Foi no verão de 2008 que o destino trouxe a mulher da minha vida, minha alma gêmea, e ao lado dela passarei todos os verões que ainda me restam. O inverno agora é uma estação extinta em meu mundo.


11/06/08 - 04:26