domingo, 15 de junho de 2008

Embriaguez de sono


Duas horas da manhã. Completam-se cerca de quarenta e uma horas acordado. Olhos vermelhos e estagnados. O corpo não acompanha mais a agilidade contínua do cérebro. O despertador, oriundo de um camelô, ordena que a cada "tic", além de decretar um segundo passado, também diminua a ligeireza dos reflexos. Dois dias seguidos trabalhando, estudando, namorando, falando, escutando, pensando. O inconsciente pede desesperadamente a cama quente e o consciente quer mais alguns momentos de lucidez para transformar em palavras as idéias que persistem na mente.

A visão, em câmera lenta, parece que não acompanhará o raciocínio, porém os dedos digitam tão rapidamente as mensagens enviadas pelo cérebro, que multiplica constantemente as informações mandadas para o computador. Enquanto a transcrição é feita, pensamentos diversos ocorrem, fugindo totalmente da idéia do texto, mas os dedos continuam a digitar coerentemente o que foi-lhe pedido anteriormente, como se fosse um subordinado fazendo o que o patrão manda-lhe.

A cada piscar d’olhos, a cada bocejo, milhares de viagens são feitas paralelamente e começa a fluir o intelecto, trazendo a cada letra uma tensão sobre o resultado final. O sono faz com que a reflexão seja diferente, como se estivesse hipnotizado ou dopado e diferentemente de uma situação normal, tudo tem um sentido dissemelhante.

Nos momentos finais, surge uma sensação vaga, como se não quisesse sair daquela transe e se o corpo permitisse, não pararia mais de transladar a criatividade que fora dada naquele momento de embriaguez de sono. Mas como tudo possui um fim, chegara o momento de botar um ponto final e apenas apreciar posteriormente os relatos que foram criados.

Três horas da manhã. Completam-se cerca de quarenta e duas horas acordado. A petição de rendimento que o corpo pedira, será atendida pela mente. Com o sentimento de dever cumprido, o consciente ordena o tão aguardado repouso.

4 comentários:

Zúnica disse...

Rapaz, agora sim eu fiquei impressionado!

casimiro, você empregou um ritmo, uma linguagem, uma criação de imagem tão perfeita, que eu reli três vezes o teu texto, pra sentir as minúcias dele.

Nesse texto você aliou aquela entrega, a sinceridade dos outros textos, com a técnica narrativa perfeita.

Cara, parabéns mesmo! faço questão de ler cada texto que vc colocar aqui!

Marcelo Fabri disse...

Olha só o beatnik!!
Gostei, marmanjo! Pílulas de loucura nos blogs não fazem mal a ninguém.
Marcelo

Alma e Imagem disse...

dgzfeSerá que é coisa de jornalista ficar horas acordado e não querer dormir por pensar demais?rs
Adorei seu texto! Tem o ritmo acelerado dos pensamentos que teve.

Beijos

Anônimo disse...

Muito Bom!Q inteligentissíssimo ele eh!