sábado, 21 de junho de 2008

O Andarilho


Malas prontas para a grande viagem. Caminharei pela estrada procurando a Felicidade. Prometo parar quando encontrá-la e alojarei-me eternamente no local onde ela estiver.

É dia ainda. O Sol atinge minha cabeça, fritando meus pensamentos ainda lúcidos, esquentando ainda mais minha angústia em encontrar meu objetivo. Um cantil de paciência ajuda a minimizar a quentura da árdua jornada que terei pela frente.

Passam-se alguns dias e sem parar por instante algum, a visão trêmula do horizonte continua a palpitar perante meu globo ocular. É a visão do desconhecido, do nada, do suspense, da ausência. Diante da contínua cena, os olhos pedem trégua e faço a primeira parada. Não deveria, pois nunca pode-se perder tempo quando pretende-se ir de encontro com a Felicidade.

Após o descanso, sigo adiante. As visões mudam, porque acostumei com o cenário. O desconhecido tornou-se conhecido, o nada transformou-se em tudo, o suspense virou rotina e a ausência alterou-se para comparência e agora caminhara ao meu lado. Essas mudanças são pistas sobre o paradeiro da Felicidade, que não deve situar-se muito longe dali.

Ao longo da estrada, vejo algo distante. Aproximo-me rapidamente e encontro uma bifurcação. O sentimento de dúvida pairou no ar. Para onde seguir? À esquerda, uma trilha com flores e pássaros por todos os lados. À direita, uma estrada de terra, onde via-se o pôr do Sol ao fundo. Com muitas dúvidas, resolvi seguir o Sol.

O cansaço voltara, mas decidi não parar mais até encontrar a Felicidade. Caminhei por diversos dias e veio o fatídico acontecimento: O final da estrada que escolhera, era meu ponto de partida. Exatamente de onde comecei a andar em busca da Felicidade, cheguei. Viajei por diversos dias e noites, em vão. Prontamente, ergui a cabeça e voltei pela estrada até chegar novamente à bifurcação.

Já sabia que o caminho do Sol não era o da Felicidade. Só restara a trilha das flores e pássaros. Passei novamente dias e noites andando. Esse caminho parecia ser infinito, mas não desanimei, pois sabia que no final viria a recompensa.

Ao fim da viagem, novamente a decepção: o fim da trilha também era exatamente o lugar de onde eu partira. Como pode os dois caminhos resultarem em um único local, sendo ele o mesmo de onde eu saí?

Cabisbaixo, resolvi desistir de meu objetivo, mas quando levantei a cabeça, tive a surpresa mais inimaginável de minha vida. Vi a Felicidade, justamente onde comecei minha jornada. Perguntei à ela o que fazia naquele lugar, onde passei todos meus momentos sem sua companhia, e por que quando fui ao seu encontro, ela decidiu acomodar-se lá. A Felicidade foi simples em sua resposta. Me disse que sempre esteve e nunca saíra daquele local, e eu nunca dei-me a chance de enxergá-la anteriormente.

Entrei em minha casa contente, pois tinha achado o que queria, porém, estava pensativo e não decifrara o que acabara de acontecer. A resposta para tudo surgiu rápido. Quando olhei no espelho, não me vi. O que refletia era a Felicidade. Entendi que ela não estava apenas ao meu lado, ela estava dentro de mim. Estando dentro de mim, poderia transformar qualquer lugar, qualquer objeto, qualquer sentimento, qualquer pessoa, na Felicidade, e foi isso que eu fiz.

Com minha longa viagem, aprendi que não acha-se o que não existe, mesmo procurando pela vida toda, em todos os lugares. Para encontrar, basta ver o que deseja, dessa forma, o desejo passa a existir.

3 comentários:

Vivi Peron disse...

Nossa que texto lindo!!!
Adorei o tema felicidade e a maneira como abordou, concordo com suas palavras a felicidade tem que estar dentro de nós.Você também ganhou uma nova fã rsrsr.
Bjs!!!!

Zúnica disse...

Tudo de bom e ruim que nos acontece é resultado do que existe dentro de nós, e não ao redor de nós. Toda estrada nos leva apenas á nós mesmos.

Seus textos estão cada dia melhores, cara, e essa abrodagem é magnífica! Já viu um autor chamado Herman hesse? Escreveu sidarta; narciso e Goldmund; O Lobo da Estepe; Demian... Ele aborda muito o aspecto desse teu texto.

Caio Rudá de Oliveira disse...

Mais um belo texto.

Não sou muito fã de abordagens otimistas; lembra livros de auto-ajuda. Ainda bem que esse não é o caso. Palavras bonitas e conteúdo: ótima combinação.

Não sei por que, mas me lembrei do texto "A moça tecelã", de Marina Colasanti. Vale a pena conferir.